"Lembrar pra não esquecer" 20 anos de CIEP Gregório Bezerra
Abaixo dicas de livros para trabalhar o nosso projeto:
Publicado em 1945, Infância é uma autobiografia de Graciliano Ramos que prova ser possível uma obra somar os elementos pessoais com os sociais. Muito do que o autor confessa em suas memórias são problemas que afetaram não só a ele mesmo, mas também o seu meio. Sua dor é também a dor de nosso mundo.
Novamente Bartolomeu Campos de Queirós traz suas memórias de infância para construir uma prosa poética no livro Antes do depois (Editora Manati). Mas o que seria "prosa poética"? Uma das definições de prosa é "expressão natural da linguagem escrita ou falada, sem rimas" e a poética é a arte de fazer poesia. Sendo assim, a prosa poética pode ser considerada a união do melhor na literatura (a escrita do cotidiano numa linguagem narrativa) e ainda por cima de forma poética, isto é, com um tratamento estético que leva à poesia, ao sentimento. Explicando de forma menos teórica: a prosa poética é aquele texto que nos enleva, nos faz extasiar, mexe com nossas emoções e nos dá um prazer indescritível. Talvez porque fala das coisas direto ao nosso coração. e sua fala é delicada, mansa, sussurrada.
Letícia, em latim, significa alegria. Lúcia, na mesma língua-mãe, quer dizer luz. A língua 'morta' lateja, como um fio invisível, mas vivo, no inconsciente dos escritores e leitores latinos. Não por acaso, os dois principais personagens desse conto chamam-se 'alegria' e 'luz' - Letícia é a menina órfã; Lúcia, a madrasta que tenta abrir um espaço próprio no coração da criança.
"Alexandre e Outros Heróis" traz histórias folclóricas sobre heróis e grandezas - todas elas inverossímeis. Nelas, Graciliano une o real ao imaginário, cabendo ao leitor demarcar a fronteira entre outros territórios.
retirado daqui
Em Fazendo Ana Paz a história surge através de fragmentos dispersos, como fotografias em álbuns antigos. Um autor à procura da personagem...ou será a personagem à procura do autor?
Em O Rio e eu, após ser apresentada, ainda criança, ao Rio de Janeiro pela pitoresca Maria da Anunciação, a autora passa a lidar com a Cidade Maravilhosa como mais uma de suas personagens e nos relata o caso de amor que até hoje mantém com o Rio.
Ao contar a infância do menino Antônio desde o seu nascimento numa fazenda do interior de Minas Gerais até a adolescência, quando sai de casa para estudar na cidade, o autor mantém-se fiel ao estilo poético marcado por imagens de grande beleza, já presente em suas outras publicações. Não se trata apenas de uma narrativa sobre um menino do campo, mas da recriação de um universo quase desaparecido em nosso país: o da infância marcada pelas brincadeiras tradicionais e pela cultura popular. O autor apresenta o ambiente rural mineiro, no qual o homem e a natureza andavam em sintonia, e um tempo marcado por rotinas ligadas ao trabalho de plantar e colher, por nascimentos, comemorações e mortes – enfim, um universo moldado por afetos e valores daquele grupo.
Em Malasartes, Pessôa reuniu doze contos protagonizados pelo matuto personagem, colhidos em suas pesquisas sobre o folclore brasileiro. Na apresentação, ele lembra que Malasartes está presente nos relatos de folcloristas como Câmara Cascudo, Basílio de Magalhães e Sílvio Romero, entre outros, "sempre apresentado com os clichês do típico homem do povo: magro, amarelado, aparentemente fraco e feio". Sua distinção dos heróis tradicionais da literatura é que, ao contrário destes, que têm como meta vencer os poderosos e alcançar a felicidade através do casamento e da fortuna, Malasartes vive de pequenas espertezas e busca apenas seu prazer imediato. "Ludibria os poderosos com sua astúcia não para tomar-lhes o lugar ou a fortuna, mas para conseguir uma soma de dinheiro que garanta sua diversão", diz o autor. E depois de torrar os tostões, ele sai em busca de novas aventuras.
Era uma vez uma velhinha que já não tinha nenhum amigo, pois todos eles haviam morrido. Por isso, ela começou a dar nome às coisas que durariam mais que ela: sua casa, seu carro, sua poltrona. Até o dia em que um cachorrinho apareceu no seu portão. Então, a velhinha acaba dando um nome ao cachorrinho, mesmo correndo o risco de sobreviver a ele. A autora trata sutilmente de solidão e perda. As bonitas ilustrações, em aquarela de traço firme, imprimem graça e leveza ao texto.
Escritas em primeira pessoa, neste que poderia ser considerado um dos livros de cunho mais autobiográfico da autora, as narrativas resgatam, de uma perspectiva memorialista da mulher adulta, a arguta ingenuidade de seus pensamentos e sentimentos aos oito e nove anos de idade, quando moradora da cidade do Recife, por cujas ruas perambulava, aos saltos, enchendo-as da memória da sua passagem. Esse material, buscado a uma época tenra de sua história pessoal, é utilizado para suas reflexões sobre a vida, a atividade literária e o exercício de um feminismo místico que se torna a marca de seu estilo.
retirado daqui
Durante uma das arrumações de sua mãe, Isabel toma contato com o passado, por meio dos objetos e fotografias que as duas encontram numa antiga caixinha de madeira. Uma das fotos era da mãe, o que já inquieta bastante a menina. “Eu olhava para minha mãe e para o retrato da menina, achava meio gozado aquilo, minha mãe criança, brincando no galho de um camelo, pensando em balão d’água. E era meio esquisito, ela grande ali na minha frente, sentada no chão, explicando as coisas” (p. 8). Mas as coisas se complicam mesmo quando ela se depara com o retrato de sua bisavó, Beatriz. Para surpresa de Isabel, ao tentar colocar a foto no bolso, ela começa a ouvir uma voz – este foi o começo das longas conversas que teria com Bisa Bia, que passaria então a acompanhar a menina na escola e nas brincadeiras, sempre dando conselhos e opiniões, e deixando-a às vezes em situações embaraçosas com os colegas. Mas, afinal, “Como é que eu podia explicar (…) que Bisa Bia estava existindo agora para mim?”
Um fio de voz conta pedaços de histórias, muitas delas antigas. Cada noite uma nova, sempre sobre o mesmo tema - são 'montes de histórias de mulheres e fiapos, fios e linhas de todo tipo, ponto a ponto se tecendo e virando novas tramas'. Penélope tece um tapete de dia e desfaz à noite, enquanto espera pela volta de Odisseu; a princesa Ariadne empresta um fio para que Teseu saia do labirinto onde vivia o Minotauro; uma princesa sobe na torre de um de seus castelos, encontra uma velha fiando e, maravilhada, toca no fuso para então cair em sono profundo; uma camponesa, trancada pelo rei em um quarto e obrigada a transformar toda a palha em ouro, recebe a ajuda de um anãozinho chamado Rumpelstiltskin, que em troca quer o futuro filho dela; Aracne é desafiada pela deusa Minerva, consegue provar ser melhor tecelã e por isso é transformada em uma aranha... De ponto em ponto, num texto extremamente sensível e ilustrado com bordados, Ana Maria Machado reúne clássicos da literatura para tecer a história de uma mulher que passou a vida entoando 'E a velha a fiar' na beira do rio, onde lavava roupa de manhã, indo à igreja à tarde e contando histórias de noite. Até que um dia ela resolve mudar e bordar uma outra história, para criar um mundo novo.
Em 'Quando eu era pequena' Adélia Prado leva o leitor numa viagem pelas recordações de infância. A beleza das ilustrações em harmonia com um texto primoroso despertam sensações como cheiros, sabores, tristezas e alegrias que são capazes de remeter os adultos às memórias do passado e as crianças a um maravilhoso mundo de descobertas.
Nesta obra, o menino Fernando, que vem a ser o próprio autor, vive todas as fantasias de sua infância, através de aventuras mirabolantes. Ensina uma galinha a conversar, aprende a voar com os pássaros, fica invisível, encontra-se com Tarzan e Mandrake, visita o sítio do Pica Pau Amarelo, torna-se agente secreto e campeão de futebol, vive aventuras na selva, enfrenta o valentão da sua escola. E, no menino que vê refletido no espelho, descobre o melhor de si mesmo, a projeção do ideal de pureza que só uma criança pode alcançar - simbolizada na libertação dos passarinhos.
Como toda residência de interior habitada muito tempo pela mesma família, a casa velha da ponte vivia cheia de histórias. Construída "em pedra, madeirame e barro", com as suas "folhas de portas pesada de árvores fortes descomunais serradas a mão", a sua senzala desativada e seus imensos portais, a própria casa já era uma parte viva da história da cidade de Goiás Velho.
As suas paredes presenciaram histórias de amor e suicídios de escravos, enquanto lagartixas buscavam as brechas para se aquecer. Um dos antigos proprietários, recebedor dos quintos reais, tinha se apossado do dinheiro do estado. Para fugir à prisão, teria ocultado no porão moedas e barras de ouro, dando origem assim à lenda do tesouro enterrado. Mais tarde, em época de esplendor, a família só "almoçava sua gorda feijoada goiana em pratos e talheres de ouro".
Tradições como essas embalaram a infância de Cora Coralina, criada na velha casa, já então decadente, "cerradas portas e janelas, resguardando de olhar estranho o desmazelo e a pobreza que se instalavam". Essas histórias domésticas e outras vividas na cidade, que impressionavam a menina, são o material vivo e humano do livro, registro de velhas tradições e, ao mesmo tempo, retrato fiel e pitoresco de uma comunidade do Brasil Central no final do século XIX e início do século XX, com as suas prostitutas segregadas, vivendo em becos, capazes de valentias, como a narrada no delicioso Minga, zóio de prata, os famosos raptos de donzelas ( Cortar em Riba do Rasto ), tão freqüentes no Brasil antigo, as solteironas (Quadrinhos da Vida).
Nem faltam as estórias de assombração e assombramento ( Procissão das Almas, O Caso de Mana ), sempre tão vivas no imaginário popular, narradas com aquela insuperável simplicidade e leveza de Cora Coralina, encanto de seus versos, encanto de sua prosa.
Este livro resgata a figura do Menino, presente em obras anteriores, o qual sempre ressurge a cada criação do poeta. As figuras desconexas e plurais de Manoel de Barros circulam mais uma vez por Menino do Mato. Ao se ler este volume de poesias, a primeira questão que intriga o leitor é compreender de que fonte provém toda a inspiração deste autor. Ele a credita aos seus tempos de meninice, vividos em uma fazenda em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Neste período ele construiu a sua famosa ‘oficina de desregular a natureza’, que continua ativa até hoje.
Um testemunho comovente da educação de um jovem sob a opressão da palmatória, com um final surpreendente. Um retrato divertido e hilariante sobre excesso de cuidados em se guardar coisas fora do alcance das crianças. Quanto pode ser a dedicação e o respeito de uma escrava para com seu senhorio? Existe realmente alguma maldição em se achar um tesouro e não compartilhar com alguém?
Temas como esses são abordados nos 18 "contos" inéditos da escritora goiana. Obra póstuma de uma escritora que se tornou um mito na literatura nacional. Apesar de escrever desde os 20 anos, só conseguiu publicar seu primeiro livro aos 76 anos, em 1967. Talento reconhecido por escritores renomados como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado.
Temas como esses são abordados nos 18 "contos" inéditos da escritora goiana. Obra póstuma de uma escritora que se tornou um mito na literatura nacional. Apesar de escrever desde os 20 anos, só conseguiu publicar seu primeiro livro aos 76 anos, em 1967. Talento reconhecido por escritores renomados como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado.